Infelizmente — mas como é de praxe entre os povos sem memória, como o
somos nós mesmos — o Mercado Municipal de Piracicaba não tem merecido o
respeito que lhe deveria ser devido por força de sua longevidade e história.
Ele foi inaugurado, no local onde ainda hoje se encontra, no dia 5 de julho de
1888. Mas a grande luta para construí-lo - por iniciativa e persistência da
“Gazeta de Piracicaba” — começou em 1882, na edição de 12 de agosto daquele
ano. Era proprietário e redator daquele hoje histórico jornal Joaquim Borges da
Cunha, que propugnava pela construção de um mercado, “uma falta, falta grave”
de que se ressentia a Cidade.
Em 1882, Piracicaba era uma das maiores cidades de São Paulo em
população, tendo, para efeito de cobrança de impostos, 1.128 casas. Se não
havia um mercado central, como era então, o abastecimento da população? Havia
mascates que iam de porta em porta oferecendo seus produtos e, também, os
“quartos”, cubículos espalhados pelas principais ruas da Cidade: na rua da
Palma ( atual Tiradentes), na rua dos Pescadores (atual Prudente de Morais),
especialmente. Era uma confusão só: mascates, escravos, tropas de soldados,
vendedores e compradores de escravos, animais de carga em atropelos, a
molecada, mucamas, donas de casa. A “Gazeta” estava certa: urgia a construção
de um Mercado.
A discussão durou seis longos anos. E o responsável para tornar
realidade o apelo da “Gazeta” foi o então vereador Manoel de Moraes Barros, que
assumiu a idéia e comandou a luta. Todos os interesses entraram em jogo. A idéia
original era construir o Mercado na “Cadeia Velha”, a Praça 7 de Setembro dos
tempos modernos, onde estaria, hoje, o Coreto do Jardim, diante da Rádio
Difusora. Depois, o Largo do Gavião (atual Praça Almeida Júnior), por onde está
a Pinacoteca, entre as ruas São José e Morais Barros (antiga rua Direita). Até
melhoramentos, como rebaixamento das ruas, começaram a ser feitos. Mas não deu
certo: o terreno era muito pedregoso.
Daí, continuou a disputa: construir o Mercado onde atualmente está, “em
terreno da rua do Comércio (atual Governador Pedro de Toledo), no canto da rua
Esperança( atual rua D.Pedro lI), de propriedade de Maria Josefa de Camargo e
de João Comado Engelberg”. Nova confusão: o industrial Engelberg, um dos
pioneiros da indústria piracicabana, não queria vender o seu terreno. Então,
Jacob Diehl ofereceu um terreno de sua propriedade: na rua da Palma (atual
Tiradentes), esquina da rua do Conselho (atual Regente Feijó). Mas o terreno
era insuficiente para um mercado e, por outro lado, a Câmara Municipal estava
comprometida com dona Maria Josefa. O povo cotizava-se para construir o
Mercado.
E, a exemplo do que ocorre ainda hoje, os comerciantes começaram a
brigar: o pessoal da rua da Palma (Tiradentes) queria o mercado naquela área; e
o pessoal da rua do Comércio (Governador Pedro de Toledo) lutava para que o
mercado fosse construído em suas imediações. Aí, pois, parece ter-se
consolidado o prestígio dos comerciantes da atual rua Governador (antiga rua do
Comércio), atualmente em decadência pelo surgimento dos shoppings: o Mercado
iria ser construído lá mesmo no encontro da rua do Comércio com a rua
Esperança.
Tudo certo e arranjado, o Mercado foi construído pelo engenheiro que
apresentou, segundo a Câmara Municipal, a melhor proposta, Sr..Miguel Asmussen.
No dia 22 de fevereiro de 1887, a construção foi concluída. Mas, para o Mercado
funcionar, faltava um Regulamento, que foi elaborado por Prudente de Morais e
Paulo Pinto. E o Regulamento somente ficou pronto em 1888.
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