Texto por Kátia Marko, 12/05/13
"Esse tema foge um pouco do conceito do blog, mas me vejo vivendo em uma sociedade "doente" e a não aceitação do problema é muito alta, por isso acredito necessário um texto que nos traz à realidade com informações interessantes." Sol Caldeira
Corpos deprimidos. Espíritos anulados. Assim caminha a humanidade.
Egos sem qualquer conexão com o corpo. Sentir é perigoso. O melhor é continuar
a nos iludir com nossas gaiolas de ouro. Prisões internas que nos mantêm atados
ao toco. Conceitos morais que a cabeça nega, mas o corpo carrega. Tensões
crônicas que não permitem a vibração espontânea, o prazer, o orgasmo.
Medos irreais. Necessidade excessiva de segurança e estabilidade.
Raiva enrustida, cuspida em brincadeiras sem graça. A crença de que não vai dar
certo. Essas foram algumas das coisas que habitam meu ser e me dei conta
durante um trabalho terapêutico de nove dias na Comunidade Osho Rachana. “Paixão: Qual é a
tua?” era o nome do grupo. Pode parecer, num primeiro momento, uma pergunta
simples. Mas quando mergulhamos mais fundo no mar de ilusões e falsos desejos,
percebemos a dificuldade em acessar o que realmente nos preenche, nos faz feliz.
Vivenciar intensamente os meus medos, conflitos, personagens,
fantasmas e emoções, me possibilitou ver com mais clareza como limito minha
liberdade e capacidade de amar. O quanto ainda estou presa às convenções,
apesar do discurso vanguarda. O que eu quero de verdade? Cada vez mais percebo
que não é o que está fora de mim. Na real, é mais fácil criar necessidades
externas do que entrar em contato com o vazio, a falta de confiança, o medo de
amar e ser amada. Buscamos subterfúgios, elaboramos estratégias com maestria
para fazer de conta que o buraco não existe.
A campanha “Mais amor, por favor” chegou a Porto Alegre. É uma
bela iniciativa, mas só palavras não mudam o mundo, muito menos as pessoas e
suas relações. Falta consciência e indignação para romper as barreiras e querer
amar de verdade. Iniciei este artigo afirmando que nós, seres humanos, estamos
com nossos corpos deprimidos e nossos espíritos anulados. Pode ser arrogante.
Corro o risco. Sentimos muito pouco e pensamos, ou achamos que pensamos, em demasia.
Talvez seja mais correto dizer que rodamos em círculos em pensamentos
cristalizados e neuróticos. Nossos espíritos estão enjaulados em corpos
entupidos de comida ruim e remédios entorpecentes; obesos, sem tônus e
vitalidade.
É bem mais cômodo se queixar da vida, dos outros, do que assumir a
responsabilidade da mudança. “Quem não se movimenta, não sente as correntes que
o prendem”, já dizia a revolucionária Rosa Luxemburgo. Segundo o mestre indiano
Osho, no qual busco inspiração, sofrer de depressão simplesmente significa que
você tem se reprimido demais. “Depressão nada mais é do que repressão. Você
está deprimido porque não lhe é permitido se expressar. Ao se expressar, ao
catarsear tudo o que está reprimido em seu inconsciente, você vai se tornar mais
sano, mais saudável.”
Bloqueadas as emoções, impedimos que a nossa energia vital circule
livremente por nosso corpo, o que faz com que ele perca a vitalidade original e
passe a refletir os bloqueios a que se submete. Apesar de as emoções bloqueadas
serem frequentemente as “negativas” (raiva, dor e medo), a perda de
sensibilidade do corpo gera uma incapacidade também para os sentimentos ditos
“positivos”, como a alegria e o amor. A vida torna-se, então, carente de
significado e, em níveis mais profundos de depressão, a pessoa não deseja
sequer viver. Mas a depressão é mais comum do que se pensa na vida das pessoas.
O médico norte-americano Alexander Lowen, questiona, em seu livro Alegria, por que não nos
curamos espontaneamente, se ficamos deprimidos? “Na verdade, há pessoas que
superam espontaneamente uma reação depressiva. Infelizmente, na maioria dos
casos, a depressão tende a reaparecer, porque a causa subjacente persiste. Essa
causa é a inibição da expressão dos sentimentos de medo, tristeza e raiva. A repressão
desses sentimentos e a tensão concomitante reduzem a motilidade do corpo,
resultando em um estado de redução ou depressão da vitalidade.”
Aliada a isto, afirma Lowen, está a ilusão de que seremos amados
se formos bons, servis, bem-sucedidos e assim por diante. Essa ilusão serve
para manter o ânimo do indivíduo durante a luta para obter amor, mas, como o
amor verdadeiro não pode ser adquirido ou obtido por qualquer desempenho, cedo
ou tarde a ilusão cai por terra e o indivíduo entra em depressão. “A depressão
desaparecerá, se o indivíduo puder sentir e expressar seus sentimentos.(…)
Expressar os sentimentos alivia a tensão, permitindo ao corpo recuperar sua
motilidade, aumentando assim a sua vitalidade. Este é o lado físico do processo
terapêutico.”
Para mim, e para as pessoas que optaram viver na Comunidade Osho
Rachana, o processo terapêutico é constante. Nossa busca por consciência e uma
vida mais plena exige um olhar atento para dentro. Sem isso, não saímos da
volta do toco.
–
Katia Marko é
jornalista, terapeuta bioenergética e uma pessoa em busca de si
mesma. Para ler todos os seus textos publicados em Outras Palavras, clique aqui